A Linha do Douro registou este fim-de-semana,
uma vez mais, problemas na operação por constrangimentos da infraestrutura e
capacidade que poderiam ser mitigados pela eletrificação até ao Pocinho.
Apesar de não se ter tratado de uma situação
pontual, este fim-de-semana tornou-se ainda mais evidente a falta de capacidade
da linha do Douro perante a procura crescente que nos últimos anos (incluindo
no decurso da pandemia) se tem verificado. Foram registadas situações de comboios
a circular com passageiros muito acima da capacidade[1] mas também a decisão do
operador, no passado sábado, de não realizar a venda de bilhetes para dois
comboios, um entre Porto e Pocinho e outro entre Pocinho e Porto que,
habitualmente, registam as maiores ocupações diariamente.
No passado sábado registaram-se na Linha do
Douro 20 circulações entre os comboios de serviços comercial, serviço especial,
histórico a vapor e Presidencial. Os diversos afrouxamentos (reduções da
velocidade) decorrentes de situações de manutenção que a Infraestruturas de
Portugal (gestora da rede) não consegue resolver ao longo de vários meses, e
nalguns casos, anos, complica diariamente o cumprimento dos horários, o que se
traduz em atrasos significativos que, por se tratar de uma linha de via única,
rapidamente se propagem ao longo do dia deixando os passageiros à beira de um
ataque de nervos.
Na ótica da Associação Vale d’Ouro estes
problemas poderiam ser mitigados com a eletrificação da Linha do Douro até ao
Pocinho, segundo o seu presidente, Luís Almeida: “a eletrificação permitirá
colocar em serviço na linha do Douro locomotivas mais potentes que até temos
disponíveis (série 2600 recentemente recuperadas ao serviço) e que permitiriam
rebocar mais carruagens sem perdas significativas de velocidade e, com isso,
ter mais lugares disponíveis já que não é possível encontrar mais canais
horários para mais comboios circularem, já para não falar na diversificação da
oferta com Intercidades, por exemplo”. Recentemente a Associação Vale d’Ouro
participou na consulta pública do Plano Operacional Regional do Norte,
elaborado pela CCDR-N, onde se mostrou preocupada pela aparente não inscrição
da eletrificação até ao Pocinho ou a reabertura até Barca d’Alva: “a
eletrificação é urgente, a proposta apresentada é curta, não corresponde aos
desejos da população e ignora frontalmente a resolução unânime da Assembleia da
República sobre Barca d’Alva” e conclui “o valor inscrito para a empreitada
Marco-Régua, de acordo com os plurianuais recentemente publicados, esgota todo
o valor inscrito no PO Regional Norte” e questiona “onde está o dinheiro para a
eletrificação até ao Pocinho, que também é mencionada no plano, a par de outras
intervenções no Vouga e na Linha do Vale do Sousa?”.
A Associação Vale d’Ouro aponta ainda outros
problemas associados à infraestrutura e que tem limitado a capacidade e os
tempos de viagem. São já de há alguns anos as intervenções que inviabilizaram a
possibilidade cruzamentos em Covelinhas e as reduções de pessoal afeto às
estações do Pocinho, do Tua e do Pinhão, o que numa linha de via única e com
cantonamento telefónico se traduzem em maiores restrições à circulação e por
conseguinte menor capacidade. Ainda recentemente a renovação integral de via
entre Pinhão e Tua não teve, “inexplicavelmente” qualquer aumento de velocidade
num troço que não apresenta quaisquer dificuldades de natureza geotécnica. É,
segundo Luís Almeida, “no mínimo, questionável a incapacidade de extrair valor
dos investimentos realizados”.
A instituição reclama assim que o concurso
para a elaboração do projeto de eletrificação da Linha do Douro seja lançado
imediatamente (estava previsto para final de 2021) em conjunto com o projeto
para a reabertura até Barca d’Alva e que sejam assumidos pela Infraestruturas
de Portugal ou pelos ministérios da tutela (Infraestruturas e Finanças) prazos
credíveis para a conclusão da empreitada e com os quais a região possa
trabalhar na planificação da sua oferta turística.
Para a Associação Vale d’Ouro o protelar
deste investimento significa um enorme desrespeito pela região e pelos seus
habitantes, sobretudo os que diariamente usam o comboio.